Classificados poéticos
Vende-se uma casa encantada
no topo da mais alta montanha.
Tem dois amplos salões
onde você poderá oferecer banquetes
para os duendes e anões
que moram na floresta ao lado.
Tem jardineiras nas janelas
a onde convém plantar margaridas.
Tem quartos de todas as cores
que aumentam ou diminuem
de acordo com o seu tamanho
e na garagem há vagas
para todos os seus sonhos.
Roseana Murray.
O Relógio
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Tic-tac...
Vinicius de Moraes
Descoberta
Carolina lê.
O livro é leve e lindo
e conta
um não-sei-quê
que a garotinha
sente e vê.
Inquieta,
Sarita lhe pergunta:
“O que e que,
assim calado,
o livro assunta?”
Carolina responde
com vozinha de cobre:
“Pega um livro..., e descobre.”
Maria Dinorah.
Duas traças, irmãs
Biblió e Teca
na hora do almoço
com muito alvoroço
ouvem a voz
da mãe traça:
Biblió, Teca!
Venham almoçar!
Há guisadinho
de papel
para traçar.
Carlos Urbim.
Um tatu de Tietê
manda beijos pra você.
Um tatu de Timbó
nunca come jiló.
Um tatu de Tuiuti
é amigo do jabuti.
Elias José.
A POESIA É UMA PULGA
A poesia é uma pulga,
coça, coça, me chateia,
entrou por dentro da meia,
saiu por fora da orelha,
faz zumbido de abelha,
mexe, mexe, não se cansa,
nas palavras se balança,
fala, fala, não se cala,
a poesia é uma pulga,
de pular não tem receio,
adora pular na escola...
Só na hora do recreio!
Sylvia Orthof
As cores e as palavras
Há palavras azuis:
céu, encontro, amigo,
beleza, sorriso, serenidade...
Há palavras brancas:
comunhão, véu, voo,
pureza, solidão, paz...
Há palavras vermelhas:
samba, sangue, guerra,
futebol, lábios, paixão...
Há palavras cinzentas;
pesadelo, indiferença, nunca,
finados, inverno, poluição...
Há palavras amarelas:
girassol, luar, inteligência,
poder, luz, sucesso...
Há palavras rosadas:
vinho, vela, mocidade,
namoro, noivado, jardim...
Há palavras verdes:
mar, mata, esperança,
novo, brotação, vida...
Há palavras multicoloridas:
Arco-íris, jardim, lápis,
festa, feriado, floricultura...
Elias José
Poeminhas Cinéticos
Era um homem bem vestido
Foi beber no botequim
Bebeu muito, bebeu tanto
Que
saiu
de
lá
assim.
As casas passavam em volta
Numa procissão sem fim
As coisas todas rodando
Numa procissão sem fim
As coisas todas rodando
Millôr Fernandes
Pássaro em vertical
Cantava o pássaro e voava
cantava para lá
voava para cá
voava o pássaro e cantava
de
repente
um
tiro
seco
penas fofas
leves plumas
mole espuma
e um risco
surdo
Lisbério Nevesn
o
r
t
e
-
s
u
l.
O Grilo
O grilo
gritou no saco
gritou no papo do sapo
gritou no poço
gritou na cara do moço
gritou no mato
gritou no sapato.
E de repente
pra espanto da gente
não gritou mais.
Almir Correia
De manhãzinha
Tchim tchim, tchim
Co, co cof
Fom, fom, fom.
É a banda passando?
Corri à janela,
mas não era ela.
Que decepção!
Eu emburro, embirro.
Era meu irmão, com um lenço na mão,
no seu festival
matinal
de tosse e espirro...
Teresa Noronha.
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